Já se tinha percebido que há uma Direita radical, dentro e fora do PSD, que não se conforma com a liderança de Rui Rio e que está disposta a dar guerra, se necessário em campo aberto, ao seu propósito de recentrar o partido e de encetar um diálogo construtivo com o PS sobre matérias estruturantes - tudo "desvios" tidos por intoleráveis e que muitos entendem como uma autêntica "traição" à vocação natural da Direita. O que ficou a saber-se esta semana é que o problema vai ainda mais fundo do que isso. Na verdade, o modo frio como a bancada laranja reagiu ao tom cordato adotado por Fernando Negrão na sua estreia nos debates com o primeiro-ministro mostra que a Direita radical, além de contestar a estratégia e o posicionamento político da nova liderança do PSD, tem um outro motivo de séria divergência: não abdica do radicalismo na forma de fazer oposição.

O problema, em bom rigor, já vem de longe. Lamentavelmente, o PSD e o seu grupo parlamentar há muito que se viciaram num estilo agressivo e quezilento de fazer política, que puxa para baixo o nível do debate público e desqualifica a própria democracia. De tal forma esta lógica foi internalizada, que a JSD parece ter-se transformado numa escola de "guerrilheiros", de onde continuamente saem - muito mais do que em qualquer outra juventude partidária - fornadas de exímios praticantes da velha arte da "traulitada política" e que depois são prontamente mobilizados para as trincheiras da frente de combate parlamentar.

O radicalismo da Direita radical não se esgota, portanto, nem na ideologia, nem nas considerações de ordem estratégica: é todo um estilo. Não esconde, e muitas vezes não tenta sequer disfarçar, um certo desprezo pelos adversários políticos, aspira a transformar todo o debate de ideias num autêntico duelo de vida ou de morte e converte o salutar confronto democrático numa espécie de guerra sem quartel, em que não se fazem nem se admitem prisioneiros.

Neste quadro, se Rui Rio quer mesmo não apenas recentrar o PSD mas transfigurar o seu grupo parlamentar a ponto de o pôr a fazer, finalmente, uma oposição civilizada e construtiva, que contribua para descrispar a vida política e para elevar a qualidade do debate democrático, a tarefa imediata que tem pela frente só pode ser uma: vencer a resistência da Direita radical. Pelo que se vê, não vai ser fácil.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias

 

 

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