Marcelo Rebelo de Sousa foi ao Parlamento Europeu defender o Governo de Portugal. Ao fazê-lo, deu um excelente exemplo de cooperação estratégica na representação externa do Estado.

Além de reafirmar, como se esperava, o compromisso europeu de Portugal, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi ao Parlamento Europeu com uma missão política clara num momento sensível: fazer diante da Europa a pedagogia da nova política orçamental do Governo.

Por muito que isso possa incomodar os ouvidos mais sensíveis, a verdade é que o Presidente da República foi a Estrasburgo desfazer dois dos maiores equívocos que a sua própria família política se esforçou por alimentar junto das instituições europeias, ao arrepio da verdade e do interesse nacional: primeiro, deixando claro que o Governo português, liderado pelo PS, membro de uma das principais famílias políticas europeias, é inteiramente fiel ao projecto europeu, facto que em nada é prejudicado pelo apoio plural que tem no Parlamento; segundo, esclarecendo que o Governo português permanece disposto a honrar os compromissos orçamentais assumidos no quadro da zona euro, embora pretenda cumpri-los através de uma política orçamental diferente, em que um maior estímulo ao consumo das famílias visa conciliar melhor o rigor orçamental com a justiça social e o crescimento económico.

A intervenção do Presidente da República foi também muito pedagógica em dois outros pontos da maior importância: primeiro, quando colocou no devido lugar as condições que levaram Portugal a pedir ajuda externa em 2011, apontando o dedo sobretudo à crise internacional de 2008-2009, que se veio juntar, conforme explicou, aos "problemas estruturais" da economia portuguesa (desautorizando assim, em pleno palco europeu, a narrativa panfletária da direita tantas vezes repetida contra os governos socialistas); segundo, quando apontou como modelo para os restantes estados membros da União Europeia a atitude exemplar do Governo português de disponibilidade para o acolhimento de milhares de refugiados.

Como sempre, alguns ouviram apenas o que lhes convinha e preferiram destacar a "saída limpa", sublinhar a menção inócua a Durão Barroso, ou até enaltecer os "sonhos europeístas" assumidos pelo Presidente. Tudo formas de desconversar e passar ao lado do essencial: a verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa foi ao Parlamento Europeu defender o Governo de Portugal. Ao fazê-lo, deu um excelente exemplo de cooperação estratégica na representação externa do Estado. E prestou um bom serviço ao interesse nacional.

 

Artigo publicado em economico.pt