O cancelamento do processo de sanções contra Portugal, motivado pelo incumprimento das metas do défice de 2015 pelo Governo de Passos Coelho, é uma vitória notável de António Costa. Outros houve, é certo, que se bateram contra as sanções. Mas não há dúvida de que foi António Costa, como primeiro-ministro, quem definiu a estratégia e liderou o combate no terreno difícil de Bruxelas; foi dele a capacidade de construir confiança e fazer alianças na Europa; foi dele a grandeza de argumentar até em defesa do Governo anterior e foi dele a coragem de correr todos os riscos, incluindo o de ameaçar processar a Comissão Europeia (!), para defender o interesse nacional. Esta vitória é de António Costa antes de ser a vitória de mais alguém.

Esta é também uma importante vitória de uma nova atitude na defesa do interesse nacional. Fica provado, à vista de todos, que há uma alternativa para a subserviência e que Portugal não está condenado a uma posição subalterna na Europa. Não é coisa pouca.

Mas o sucesso alcançado em Bruxelas não é apenas importante para Portugal, é muito importante também para a própria União Europeia. Para o perceber, basta atentarmos na impressionante galeria dos derrotados. À cabeça, evidentemente, estão os fervorosos adeptos da "linha dura" que, em nome da famosa "credibilidade das regras", insistiam em querer preservar a ortodoxia austeritária à força de sanções: os poderosos vice-presidentes da Comissão Dombrovski e Katainen, oriundos da Direita; o líder alemão do PPE no Parlamento Europeu, Manfred Weber, que chegou a escrever a Jean-Claude Juncker pedindo "sanções pesadas"; o próprio presidente do Eurogrupo, o holandês Dijsselbloen, que não escondeu a sua "desilusão" com o cancelamento do processo de sanções e, finalmente, o incontornável ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que por mais do que uma vez tentou explicar à Comissão que as sanções eram apenas "incentivos".

A vitória de António Costa em Bruxelas, contra esta tão poderosa "linha dura", prova que Portugal tem uma alternativa política. Mas prova também outra coisa não menos importante: a União Europeia pode ter política alternativa.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias