Vice-presidente do Parlamento Europeu considera que "é cada vez mais evidente que os unionistas estão isolados na sua cruzada contra o acordo" entre União Europeia e Reino Unido.

O Presidente dos Estados Unidos está de visita à Irlanda do Norte e à Republica da Irlanda. Joe Biden participa nas comemorações do 25.º aniversário do acordo de paz. É uma visita seguida atentamente por Bruxelas, num momento particularmente difícil para Londres, em que o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, procura, a todo o custo, evitar que a situação possa voltar a descontrolar-se.

Entrevistado pela Renascença, Pedro Silva Pereira, vice-presidente do Parlamento Europeu, refere-se a Joe Biden como um aliado da União Europeia na questão da Irlanda do Norte, nos apelos que dirige aos unionistas para que aceitem a partilha de poder com o Sinn Fein.

Qual é a importância, para a União Europeia, da visita de Joe Biden às duas Irlandas, a Belfast e a Dublin?

Nesta visita do Presidente Joe Biden à Irlanda, ele confirma-se como um aliado da União Europeia na questão da Irlanda do Norte. Logo à partida, anunciou dois objetivos: Em primeiro lugar, defender naturalmente o acordo de paz, o acordo de Sexta-feira Santa. Isso significa apelar aos unionistas para aceitarem a partilha de poder com o Sinn Fein.

O princípio basilar do acordo é que as duas comunidades rivais, que se digladiaram sangrentamente durante tantos anos, devem cooperar e partilhar poder. Neste momento, essa partilha de poder está bloqueada porque os unionistas perderam as eleições para o Sinn Fein, e protestam contra o chamado Protocolo da Irlanda do Norte, que foi celebrado com a União Europeia.

Ora, quando o Presidente Joe Biden apela ao regresso ao poder partilhado na Irlanda do Norte, está, de facto, a dizer que é preciso superar esta divergência com a União Europeia.

E Londres não parece capaz de o garantir...

Vamos ver. Há um segundo objetivo que ele [Biden] anunciou, que o acordo de Windsor, recentemente negociado entre a União Europeia e o Reino Unido, seja cumprido. Até ao momento, realmente, os unionistas não cederam na sua posição neste, na sua contestação ao acordo celebrado com a União Europeia. Mas estão cada vez numa posição mais insustentável do ponto de vista político.

A Câmara dos Comuns, no Reino Unido, aprovou o acordo proposto pelo primeiro-ministro Sunak e acordado com a União Europeia por uma larguíssima maioria. Portanto, é cada vez mais evidente que os unionistas estão isolados nesta sua cruzada contra um acordo que é essencial para a União Europeia, mas é essencial também para a paz na Irlanda do Norte.

É que o princípio básico do acordo de Sexta-feira Santa é que não deve haver fronteira entre as duas Irlandas. Ora para isso é preciso, dado que existe Brexit, que tenhamos forma de assegurar a integridade do mercado único europeu.

É essencial esta intervenção quer da União Europeia, insistentemente, quer também de Joe Biden, este trabalho para conseguir colocar o comboio nos carris?

É essencial. Aliás, o Presidente Joe Biden tem utilizado um instrumento de pressão para isso muito importante. Ele tem recusado fazer um acordo comercial com o Reino Unido, enquanto o Reino Unido não se entender com a União Europeia sobre a questão da Irlanda do Norte.

Todos nos lembramos que uma das ambições do Brexit era que o Reino Unido iria fazer, depois, acordos comerciais fantásticos por esse mundo fora. Ora, o primeiro, e mais importante, era com os Estados Unidos. Só que Joe Biden recusa fazer esse acordo comercial. Vai fazer um acordo comercial muito limitado sobre minerais, tal como está a negociar com a União Europeia, mas não o grande acordo comercial que o Reino Unido queria. E a razão é esta.

Tem havido uma ação concertada de Bruxelas e Washington?

Sim. Nesta questão tem havido. O Parlamento Europeu, eu próprio estive nos Estados Unidos mais uma vez a contactar com os congressistas norte-americanos, com o Departamento de Estado. Há uma grande convergência de pontos de vista em relação à questão da Irlanda do Norte e, portanto, essa concertação acaba por produzir os seus resultados.

Afinal de contas, o primeiro-ministro Sunak foi um pouco forçado a evoluir na posição que os defensores radicais do Brexit tinham contra a União Europeia, aceitar este acordo de Windsor, que é um compromisso para fazer aplicar, afinal de contas, o Protocolo da Irlanda do Norte, porque ele percebe as consequências económicas negativas de manter este impasse. Não é bom para ninguém, e sobretudo não é bom para o Reino Unido.

Entrevista publicada no site da Rádio Renascença a 12/04/2023.