Segundo os dados revelados esta semana pelo INE, desde que o actual Governo entrou em funções, com a sua opção por uma política de austeridade além da ‘troika’, a taxa de desemprego aumentou de 12,1% (no final do 2º semestre de 2011) para 14,9% (no final do 1º trimestre deste ano).

Foi um aumento de 2,8% em apenas nove meses (2,5% em termos homólogos). Nunca se viu nada assim! Mesmo sem haver uma recessão global como a que ocorreu em 2009, o desemprego está a crescer em Portugal a um ritmo que não tem paralelo no passado: em menos de um ano, o número de desempregados passou de 675 mil para cerca de 820 mil. Ou seja: temos mais 145 mil desempregados em apenas três trimestres (48 mil só no último trimestre). E o pior é que as coisas tendem a piorar, sobretudo com os efeitos devastadores do aumento do IVA na restauração e do colapso no sector da construção.

Perante isto, que é dramático, o mínimo que seria de esperar era que o Governo dissesse ao País o que tenciona fazer para dar resposta a esta situação - ainda que isso pudesse implicar corrigir políticas (a começar pela absurda austeridade além da ‘troika' e pela passividade nas políticas activas de emprego) ou alterar o seu alinhamento europeu (juntando a sua voz ao grupo crescente dos que pretendem complementar o Tratado Orçamental com um Pacto para o Crescimento). Contudo, por estranho que pareça, nada disto aconteceu. Confrontado com esta inédita subida do desemprego, a resposta do Governo não podia ser mais decepcionante: o ministro das Finanças diz que não sabe, o primeiro-ministro diz que não responde e o ministro Miguel Relvas diz que não dorme. Maneiras diferentes de não dizer nada.

Nas Finanças, a desorientação é total: o ministro confessa que não entende o que se está a passar com o desemprego e o Ministério já nem arrisca previsões. Para Bruxelas, ainda seguiu (discretamente) a "previsão técnica" de uma taxa de desemprego de 14,5% este ano e de 14,1% no próximo. Mas nem Vítor Gaspar acredita nisso - e ficou de estudar melhor o assunto. Espera-se que estes 14,9% do 1º trimestre o ajudem a compreender que o caso é mesmo sério - e, sobretudo, que não o é só para as metas do défice.

O primeiro-ministro, por seu turno, sempre tão solícito para os jornalistas, preferiu desta vez fugir das câmaras de televisão para não comentar os números do desemprego. E menos ainda esteve disponível para dizer se o Governo tenciona fazer alguma coisa - ou se vai apenas ficar à espera que os 820 mil desempregados encontrem as imensas "oportunidades" que o primeiro-ministro, sabe-se lá porquê, imagina existirem nesta economia em recessão.

Quanto a Miguel Relvas, perde o sono com o desemprego - mas ainda não foi desta que anunciou o arranque do programa de combate ao desemprego juvenil, do qual ainda só se conhece a nomeação de um grupo de trabalho. Pelo mesmo tom alinharam também os ministros do Emprego e da Solidariedade Social: muita preocupação, poucas medidas.

Não pode deixar de impressionar este tom geral de resignação. Perante a maior taxa de desemprego de sempre, tendo-se chegado aos 820 mil desempregados, tudo o que os portugueses ficaram a saber é que o Governo "não sabe", "não responde" e "não dorme". Mas, sabendo isso, ficaram a saber outra coisa: assim não vamos lá.

 

Artigo publicado no Diário Económico