Falhou em toda a linha a vergonhosa operação da Direita para virar as coisas ao contrário e tentar transferir para o atual Governo socialista a responsabilidade por eventuais sanções europeias pelo incumprimento das metas do défice em 2015. Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque não demoraram muito a perceber que não iam dar em nada as suas diligências para convencer a sua família política e os responsáveis da Comissão de que tinham cumprido as metas no seu último ano de Governo. Apanhados em falso, recorreram então ao seu estratagema habitual: torcer a verdade e passar as culpas para os socialistas.

Tudo serviu. Primeiro, por incrível que pareça, tiveram o atrevimento de dizer que a derrapagem no défice de 2015 só aconteceu porque os socialistas chegaram ao Governo uns dias antes do fim do ano. Depois, quando se deram conta do ridículo do argumento, passaram a dizer que os limites do défice tinham sido rigorosamente cumpridos e só por incompetência técnica ou pura má-fé os socialistas não conseguiam explicar isso em Bruxelas (como se Maria Luís Albuquerque e o próprio Passos Coelho não tivessem feito chegar diretamente à Comissão os seus argumentos, sem terem conseguido convencer ninguém). Alguns dirigentes do PSD e do CDS chegaram ao ponto de escrever que António Costa queria que Portugal fosse sancionado. Finalmente, em desespero, ensaiaram uma derradeira cortina de fumo: as sanções, afinal, não se deviam ao défice de 2015, mas sim à desconfiança quanto ao cumprimento do défice de 2016. E incumprimento por quem? Ora, pelos malvados socialistas, é claro! Maria Luís Albuquerque chegou a escrever à Comissão e a repetir num artigo no "Diário de Notícias" que estava por esclarecer se as sanções eram por conta de 2015 ou 2016.

Conhecida a decisão da Comissão, a resposta que Maria Luís Albuquerque tanto queria está dada. E não podia ser mais clara: obviamente, não há sanções por conta do futuro. Como explicou a Comissão Europeia, preto no branco, o processo em curso diz apenas respeito ao passado e, mais exatamente, ao incumprimento das metas orçamentais pelo Governo PSD-CDS no período 2013-2015.

Como é evidente, a Direita teria feito melhor figura se se tivesse limitado a juntar forças ao Governo para combater este processo de sanções absurdo e que de inteligente não tem nada. E é o que faria, certamente, se estivesse focada na defesa do interesse nacional. Infelizmente, a Direita só pensou numa coisa, bastante diferente: atacar o PS, para se defender a si própria.


Artigo publicado no Jornal de Notícias