No cair do pano sobre a campanha interna do PSD, já nem os mais devotos militantes conseguem esconder o embaraço: tudo aquilo foi mau de mais. A menos de dois anos das eleições legislativas, quando era suposto o PSD lançar as bases para uma alternativa ao Governo socialista e à agenda da Esquerda, a disputa pela liderança do maior partido da Oposição resumiu-se a um muito desagradável confronto de estilos pessoais e de currículos, com os candidatos a entregarem-se à apaixonante discussão sobre qual dos dois no passado fez mais trapalhadas, mudou mais vezes de opinião ou traiu mais vezes o partido. Muito compreensivelmente, o país optou por manter uma salutar distância desta estéril contenda, premiando os debates televisivos com audiências medíocres - aliás, bastante merecidas.

Tratando-se de candidatos bem conhecidos dos militantes e sendo altamente sofisticada a organização dos sindicatos de voto na estrutura partidária laranja, não é certo que a campanha seja determinante do resultado final. Em todo o caso, pode dizer-se, em abono da verdade, que a campanha de Santana Lopes terá sido, apesar de tudo, a menos má - no sentido de ter sido a mais eficaz e de ter cometido menos erros estratégicos. Todavia, não é menos verdade que Rio ganha claramente na comparação como candidato apresentável a primeiro-ministro, não tanto pelo que foi capaz de mostrar ao longo desta campanha mas porque Santana carrega, e carregará sempre, o fardo do seu anterior fracasso colossal nessa função.

Acresce que ao colar-se excessivamente a Passos Coelho, numa manobra para conquistar os votos do aparelho, Santana descolou ainda mais de um país que não quer andar para trás. Tudo visto e ponderado, ambos os candidatos podem, e devem, ser dados igualmente como perdedores, porque ambos falharam na tarefa essencial: aproveitar esta campanha para começar a mobilizar o partido e o país para uma alternativa política.

Impressiona, sem dúvida, que desta campanha não tenha resultado uma única ideia relevante para o futuro do país. Pior ainda, na única vez em que os candidatos deixaram de olhar para o seu próprio passado foi para discutir esta magna questão: o que é que o PSD deve fazer no caso de perder as próximas eleições para o Partido Socialista? Ora, quando o grande tema em debate entre os candidatos à liderança do maior partido da Oposição é o que vão fazer num cenário de derrota, está tudo dito.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias

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