Cinco anos depois, a União Europeia está de novo confrontada com os seus problemas estruturais não resolvidos, a começar pelo problema da Grécia.
Seria bom que a Europa não repetisse o mesmo erro que levou à crise das dívidas soberanas.
Uma semana depois da vitória esperada do Syriza nas eleições gregas, enquanto os mercados se agitam e as agências de ‘rating’ retomam as suas ameaças, os líderes europeus estão ainda à procura do tom certo para responder à nova situação política. Desde as diplomáticas declarações de “inteira disponibilidade” para cooperar com as novas autoridades gregas até à enunciação peremptória de “linhas vermelhas” para as negociações que se vão seguir, em especial sobre a dívida pública, já tivemos de tudo. Aparentemente, ninguém consegue resistir à tentação de dar palpites para o primeiro microfone que apareça. Governantes ou governadores, comissários ou simples porta-vozes, todos parecem sentir-se mandatados para comentar o mandato democrático que os eleitores gregos deram ao novo Governo grego e até para antecipar, cheios de certezas, embora muitas vezes contraditórias, aquela que vai ser a resposta negocial dos parceiros europeus. Não é um bom começo.
Se há coisa de que a União Europeia precisa neste momento delicado é de liderança. Uma liderança capaz de transmitir mensagens claras e que tenha a lucidez necessária para aproveitar esta oportunidade de modo a conduzir a Europa à construção de novos compromissos e de novas respostas para os problemas que subsistem – e que a austeridade só agravou. É por isso que os olhos estão postos não apenas no duelo anunciado e inevitável entre Alexis Tsipras e a senhora Merkel mas, sobretudo, em Jean-Claude Juncker. A liderança de que a Europa precisa só pode vir de uma Comissão Europeia que contrarie o directório unipessoal alemão e recupere o ascendente perdido ao serviço da convergência e do interesse comum europeu.
Uma das mais consensuais lições da desastrosa resposta da Europa à crise das dívidas soberanas é esta: teria sido melhor cortar o mal pela raiz. De facto, a recusa inicial da solidariedade europeia, imortalizada pelo slogan “nós não somos a Grécia!”, deixou as dívidas soberanas à mercê da especulação financeira e, ao invés de “acalmar os mercados”, consentiu num efeito dominó de consequências devastadoras. É certo, a zona euro enfrentou essa crise com a fragilidade inerente às insuficiências da União Económica e Monetária, que só progressivamente foi conseguindo suprir por via de novos instrumentos de governação económica e intervenção financeira. Mas não é menos verdade que enfrentou esta crise fortemente condicionada também por uma cegueira ideológica austeritária, que muitas vezes se escondeu por trás de interpretações restritivas (hoje reconhecidamente falsas) dos Tratados, do próprio mandato do BCE e até das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Acontece que nada no Tratado de Lisboa obriga as instituições europeias a exercer as suas competências apenas quando o fracasso é evidente e a situação se torna desesperada. Quer isto dizer que a União Europeia, não obstante todas as limitações, podia e devia ter feito mais. E teria poupado muito dinheiro e muitos sacrifícios se tivesse agido de uma forma mais coesa e solidária logo desde o início, quando se declarou a crise grega.
Agora que, cinco anos depois, um novo Governo grego procura na Europa um novo compromisso político no quadro do euro, veremos se os parceiros europeus tratam o senhor Tsipras com a mesma atitude com que trataram em 2010 o primeiro-ministro George Papandreou. Ficaremos a saber nessa altura se aprenderam alguma coisa.
Artigo publicado no Diário Económico