O anúncio por Donald Trump de novas tarifas sobre as importações norte-americanas de aço (25%) e de alumínio (10%) constitui uma verdadeira declaração de guerra comercial à escala planetária. Sob uma falsa justificação de “segurança nacional”, estas medidas unilaterais protecionistas violam grosseiramente as regras da Organização Mundial do Comércio, ameaçam a recuperação da economia global e atingem de modo intolerável a economia europeia, pondo em risco milhares de empregos europeus e cerca de 6 mil milhões de euros de exportações anuais.
É verdade que há um problema sério de sobrecapacidade produtiva e de distorção da concorrência no mercado mundial do aço, mas esse problema, no essencial, tem um nome: China. O espantoso crescimento chinês das últimas décadas, aliado aos apoios do Estado e ao “dumping” social, esmagou as condições de competitividade no mercado, com graves consequências para muitas empresas e muitos empregos nos Estados Unidos, mas também na Europa. Só que esse problema exige medidas coordenadas da comunidade internacional dirigidas à verdadeira raiz do problema, não medidas unilaterais indiscriminadas que erram. De resto, as medidas específicas contra a China começaram a ser tomadas ainda por Obama com importantes resultados: só no ano passado, as exportações de aço da China para os Estados Unidos caíram 51% em volume face ao ano anterior, fazendo a China desaparecer da lista dos dez países que mais exportam aço para o mercado norte-americano. É esse o caminho que é preciso continuar, não abrir guerra contra o Mundo inteiro, começando por atingir os aliados como se fossem inimigos.
Como é óbvio, se for grave e injustamente atacada por Trump nos seus interesses comerciais, a União Europeia não tem alternativa senão retaliar na mesma moeda, de forma proporcional – mas firme. Não será bonito, mas tem um mérito: é a única linguagem que Trump entende.
Artigo publicado no Jornal de Notícias