17.12.16

“A Grécia, a Alemanha e o grupo do euro”

Foi através de um simples “tweet” do porta-voz do presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, que a Grécia foi de novo arrastada para um perigoso quadro de subida abrupta dos juros nos mercados de dívida soberana. Do alto da sua arrogância, Dijsselbloem achou que não precisava de mais de 140 caracteres para anunciar e explicar a suspensão das medidas de alívio da dívida da Grécia que tinham sido acordadas no Eurogrupo. Com a ligeireza própria dos incendiários, e indiferente aos efeitos de contágio na Zona Euro, acrescentou assim um preocupante fator de turbulência numa altura em que os mercados tentam ainda digerir as recentes alterações na política monetária do BCE e as ameaças que pairam sobre o sistema financeiro em resultado da crise italiana.

Por incrível que pareça, a suspensão do alívio da dívida da Grécia pretende ser a resposta adequada para o facto de o Governo grego ter cometido esse “crime intolerável” de utilizar uma pequena margem orçamental para, imagine-se, repor uma parte dos rendimentos cortados aos pensionistas mais pobres e adiar o aumento do IVA nas ilhas mais afetadas pela crise dos refugiados. Que medidas sociais tão elementares suscitem tamanha indignação de altos responsáveis europeus diz tudo sobre a cegueira austeritária que caracteriza a “linha dura” ainda reinante.

Não menos interessante, porém, é perceber como é que se chegou a esta decisão irresponsável. Vendo bem, o “tweet” do porta-voz do senhor Dijsselbloem não refere nenhuma reunião, nem propriamente uma deliberação do Eurogrupo. E a razão é simples: não houve nem reunião, nem deliberação do Eurogrupo. O “tweet” limita-se a dizer que as instituições credoras chegaram à conclusão de que, “aparentemente”, as decisões do Governo grego não estão em linha com o acordado e “alguns” (!) estados-membros do Eurogrupo são da mesma opinião, pelo que “não há unanimidade” para proceder à implementação das medidas de alívio da dívida grega que tinham sido decididas. Trocando por miúdos: o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, embalado pelo ambiente de pré-campanha eleitoral que se vive na Alemanha, resolveu protestar contra as medidas sociais adotadas pelo Governo da Grécia. E como quem pode manda, não foi preciso mais nada: obedientemente, o presidente do Eurogrupo, sem convocar sequer qualquer reunião, reverteu a decisão que tinha sido tomada por todos os estados-membros da Zona Euro e bloqueou o alívio da dívida da Grécia. Gentilmente, dispensou ainda alguns caracteres para “tweetar” que o Eurogrupo voltaria ao assunto lá para janeiro do próximo ano. E foi para as férias de Natal.

 

Artigo publicado no Jornal de Noticias