A remodelação governamental minimalista que ontem foi oficialmente anunciada – no culminar de um bizarro Processo de Remodelação Em Curso (PREC), que se prolongou por vários dias – ficou muito aquém das expectativas.
Como facilmente se percebe, esta remodelação não mudará nada do que, de essencial, precisava de mudar – e essa é a mais perfeita definição de uma remodelação falhada. Mas o que mais impressiona é que, ao fim de pouco mais de ano e meio de Governo, esta seja, sobretudo, a remodelação possível.
Num Governo, já se sabe, bem mais importante do que os nomes são as políticas – e essas dependem, em última análise, do próprio primeiro-ministro. Mas os nomes, sem dúvida, também contam, até porque as políticas não poderão ser remodeladas enquanto permanecerem os seus principais protagonistas.
Manifestamente, o Governo de Passos Coelho precisava de uma remodelação. Uma grande remodelação, uma remodelação a sério. Uma remodelação que fosse capaz de responder a pelo menos três problemas fundamentais: em primeiro lugar, a necessidade óbvia de reforçar o núcleo político do Governo; em segundo lugar, a urgência de libertar o Executivo de algumas imparidades e de certos erros de ‘casting’ ao nível ministerial e, em terceiro lugar, a conveniência de começar a corrigir a disfuncional orgânica do Governo, que tão gravemente prejudicou a operacionalidade dos ministérios tornados demasiado grandes para uma gestão eficaz.
Como está bem de ver, esta remodelação não resolve nenhum destes problemas, tal como não resolve nenhum outro problema verdadeiramente fundamental. Limita-se, apenas, a alguns ajustamentos pontuais e de escassa relevância ao nível dos secretários de Estado. Nesse sentido, terá alguma razão o primeiro-ministro quando diz que esta remodelação “não terá dignidade para ocupar grande destaque político no debate interno”. Com efeito, o que muda não desperta grande interesse e não merece grande discussão. Mas já não se pode dizer o mesmo daquilo que não muda. Porque o que realmente merece atenção é o próprio facto de esta ser uma remodelação falhada, uma remodelação que passa ao lado de tudo o que é essencial nos problemas políticos e funcionais do Governo.
É claro, poderá sempre dizer-se que, apesar de todas as evidências várias vezes assinaladas pelos mais relevantes comentadores políticos (incluindo os que acumulam com a condição de ex-líderes do PSD – e são vários), o primeiro-ministro não foi mais longe nesta remodelação apenas porque não reconhece qualquer problema sério na composição e no funcionamento do Governo. Mas, a ser assim, naturalmente que essa miopia seria, em si mesmo, um problema sério.
A questão de fundo, porém, será outra. A verdade é que a comunicação social já noticiou diversos convites (ou “sondagens”) que foram feitos para determinadas funções ministeriais, ao longo dos últimos meses. E essas diligências respeitavam, efectivamente, aos verdadeiros problemas essenciais do Governo. Mas, ao que agora se percebe, não tiveram sucesso. O problema, portanto, é que a confiança no rumo e no futuro do Governo já não é o que era e isso prejudica necessariamente o “poder de atracção” indispensável ao êxito de uma remodelação significativa. É por isso é que esta foi, sobretudo, a remodelação possível.
Artigo publicado no Diário Económico