A fantástica “teoria do milagre” avançada esta semana pela presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP), Teodora Cardoso, para explicar o falhanço das suas previsões quanto ao cumprimento da meta do défice de 2016, além de caricata, é tudo menos convincente. Como é óbvio, a verdadeira explicação não é de ordem sobrenatural, tal como não é de ordem técnica: é, isso sim, de ordem política. Porque a dr.ª Teodora Cardoso, do alto das suas elevadas funções e responsabilidades institucionais, não se limitou a fazer contas e a duvidar até ao fim, mesmo contra as evidências, que o Governo fosse capaz de cumprir a meta do défice: o que fez foi alinhar com o discurso catastrofista da Direita, chegando ao ponto de decretar publicamente o inapelável “fracasso” da política económica e orçamental do Governo. Sabemos agora, conhecidos os resultados, que a notícia desse pretenso fracasso foi manifestamente exagerada. Mas é precisamente aí, é nesse grosseiro erro político de avaliação, que radica o equívoco fundamental da drª Teodora Cardoso: na base de um erro tão grande, milagre seria acertar nas previsões…
De facto, ao contrário do que tantas vezes foi apregoado pelos profetas do apocalipse, ao fim de pouco mais de um ano de Governo socialista temos a economia a crescer 2%, bem acima da média da Zona Euro; a procura interna, o investimento e o consumo privado puxam de novo pelo crescimento económico; as exportações crescem acima de 6%; o indicador de clima económico melhorou e o indicador de confiança dos consumidores atingiu em fevereiro o valor mais elevado dos últimos 17 anos (!). No capítulo do emprego, em apenas 12 meses, de dezembro de 2015 a dezembro de 2016, a taxa de desemprego caiu de 12,1% para 10,2%, temos menos 95 mil desempregados e foram criados, em termos líquidos, 107 mil novos empregos – para apocalipse, não está nada mal.
Nas contas públicas, apesar do aumento de salários, das pensões e das prestações sociais, o défice diminuiu substancialmente e deverá ficar perto dos 2,1% (o valor mais baixo da história da democracia portuguesa), abrindo caminho para Portugal cumprir já este ano o objetivo estratégico de sair do procedimento por défice excessivo. Entretanto, a própria dívida pública líquida diminuiu, beneficiando de um saldo orçamental primário (descontada a despesa com juros), que apresenta um dos maiores excedentes de toda a Zona Euro.
Confrontados com esta impressionante bateria de resultados indiscutivelmente positivos da política económica e orçamental do Governo, os profetas do apocalipse podiam limitar-se a reconhecer o seu clamoroso erro de avaliação. Podiam, mas não era a mesma coisa. Incansáveis, mas previsíveis, organizam-se já em torno de uma nova construção: “os resultados até são bons, mas não são sustentáveis”. É como quem diz: “desta safaram-se, mas para a próxima é que vai ser!”. No fundo, professam a sua confiança de sempre no Diabo – o que até se percebe, vindo de quem acredita em milagres.
Artigo publicado do Jornal de Notícias