A confirmar-se, como tudo indica, a vitória de Mário Centeno na disputada corrida para a presidência do Eurogrupo, estamos perante um feito absolutamente extraordinário. Além de traduzir, como é evidente, um reconhecimento inequívoco das qualidades pessoais do ministro das Finanças, esta vitória significa um claro reconhecimento do sucesso alcançado pela política económica e orçamental do Governo. Na verdade, convém lembrar que quando este Governo chegou Portugal estava sob ameaça de pesadas sanções da Comissão Europeia (porque o Governo da Direita tinha agravado o défice estrutural em 2015). Ora, em apenas dois anos de Governo socialista, tudo mudou: Portugal passou da ameaça de sanções de Bruxelas ao apoio generalizado dos parceiros europeus para liderar a Zona Euro – é simplesmente notável!
Manifestamente, aqueles que diziam que o nome de Mário Centeno não era sequer falado nos corredores de Bruxelas, ou que não tinha qualquer hipótese de alcançar a presidência do Eurogrupo, estavam, como se vê, bastante mal informados. Mas o seu erro tem uma segunda explicação: desconsideraram, por puro preconceito partidário, o enorme prestígio internacional de que hoje goza o primeiro-ministro António Costa – e esse prestígio, ninguém duvide, faz toda a diferença.
Apesar de ser um órgão informal, o Eurogrupo é uma muito importante estrutura de coordenação dos ministros das Finanças da Zona Euro. Naturalmente, presidir ao Eurogrupo não significa mandar nos outros ministros das Finanças, nem vai permitir impor, a um órgão que é colegial, uma determinada orientação política. Mas é, sem dúvida, uma posição de influência acrescida – aliás, se o não fosse o lugar não despertaria tanto interesse.
Aqueles que temem que Mário Centeno, como presidente do Eurogrupo, deixe de se bater pelas mudanças que o Governo português tem defendido a nível europeu, deveriam, talvez, prestar um pouco mais de atenção à própria carta em que o ministro das Finanças apresenta aos seus pares o “programa” da sua candidatura. Está lá tudo o que é essencial: reforma da Zona Euro, para a tornar mais democrática, com reforço da intervenção do Parlamento Europeu, e para a tornar mais forte e capaz de promover a convergência e responder solidariamente às crises; mais coordenação económica e melhor supervisão orçamental, com regras mais simples, compreensíveis e transparentes; espaço para políticas alternativas, adequadas à situação de cada país; completar a União Bancária, hoje ainda inacabada. É este programa de reformas que Mário Centeno quer ver aprovado até junho do próximo ano, mediante um roteiro de trabalhos a definir já este mês. Não é pouca coisa.
Decididamente, este Governo também virou a página da subserviência.
Artigo publicado no Jornal de Notícias