Desde que a direita chegou ao poder, há menos de quatro anos, houve uma destruição líquida de 416 mil postos de trabalho. Um completo desastre!
O primeiro-ministro anda baralhado. Ao contrário do que disse no Parlamento, não foram criados 130 mil empregos “nos últimos oito trimestres” e muito menos deixou de ser trágico o saldo desde o início do Governo PSD/CDS: 416 mil empregos destruídos em menos de quatro anos!
A propaganda enganosa do primeiro-ministro, em assunto de tanta gravidade, não pode nem deve passar em claro e obriga-nos a voltar ao assunto dos números do emprego. Para repor a verdade dos factos.
Quando se quer avaliar a dinâmica de criação de emprego numa economia (sem entrar agora na questão da natureza dos vínculos laborais), o que conta, obviamente, é a criação líquida de emprego, isto é, o saldo que resulta do número total de empregos criados e do número total de empregos destruídos. O indicador mais utilizado e que melhor exprime a evolução da criação líquida de emprego é o da população empregada. E compreende-se bem porquê: melhor do que qualquer outro dado, é a evolução do número total de pessoas com emprego que mostra se, ponderados todos os movimentos de sinal contraditório, a economia está realmente, no seu conjunto, a criar ou a destruir emprego.
Vamos então aos factos, tomando por referência os números oficiais do INE. Quando o Governo PSD/CDS chegou, no 2º trimestre de 2011, o número total de pessoas com emprego era de 4,893 milhões. Esse número baixou agora, no 1º trimestre de 2015, para 4,477 milhões. A conclusão é clara e não admite duas interpretações: desde que a direita chegou ao poder, há menos de quatro anos, houve uma destruição líquida de 416 mil postos de trabalho. Um completo desastre!
Esforçando-se por desviar as atenções do novo aumento da taxa de desemprego (13,7% no 1º trimestre de 2015) e fingindo ignorar a brutal destruição líquida de emprego verificada desde o início da sua governação, o primeiro-ministro apresentou-se esta semana no Parlamento com a espantosa alegação de que “nos últimos oito trimestres” foram criados, disse ele, 130 mil empregos. A realidade dos números do INE, porém, diz outra coisa. É verdade que há oito trimestres atrás, no 1º trimestre de 2013, fruto da estratégia de empobrecimento e da política de austeridade “além da troika”, o volume de emprego na economia portuguesa atingiu um dos seus pontos mais baixos de sempre: a população empregada caiu para apenas 4,433 milhões (menos 460 mil do que no início do Governo PSD/CDS!). Desde então, registou-se efectivamente um movimento de alguma recuperação, embora muito ligeira, muito artificial e, sobretudo, muito irregular (os últimos dois trimestres registam mesmo uma evolução marcadamente negativa). Assim, sempre segundo o INE, chegámos ao 1º trimestre de 2015 com 4,477 milhões de pessoas empregadas, o que significa, por comparação com o 1º trimestre de 2013, uma recuperação líquida, nestes últimos oito trimestres, de 44 mil empregos (e não de 130 mil, como pretende o primeiro-ministro). Feitas as contas desde o início da governação da direita, mantém-se o saldo negro que este Governo tem para apresentar: 416 mil empregos destruídos.
Passos Coelho errou igualmente no alvo quando pretendeu gracejar com o objectivo de criação de 150 mil empregos assumido pelo primeiro Governo Sócrates (2005-2009), sugerindo uma comparação de resultados. Porque também sobre isso há muitas ideias feitas, não há melhor do que lembrar os números oficiais do INE: quando o primeiro Governo Sócrates chegou, no 1º trimestre de 2005, havia 5,094 milhões de pessoas com emprego; no 2º trimestre de 2008 esse número já tinha aumentado para… 5,228 milhões! Contas feitas, o primeiro Governo Sócrates criou efectivamente 134 mil empregos líquidos nos seus primeiros três anos de mandato (numa dinâmica que se manteve até à falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008, que precipitou a Grande Recessão de 2008-2009). Sendo estes os factos, já se vê que não é difícil comparar os resultados em matéria de criação de emprego dos três primeiros anos do Governo socialista com os três primeiros anos do Governo da direita: são 134 mil empregos criados pelos socialistas e 416 mil empregos destruídos pela direita. É só fazer as contas.
Artigo publicado no Diário Económico de 8 de maio e na sua edição online.