A Assembleia da República, correspondendo ao muito oportuno apelo do seu presidente, Ferro Rodrigues, aprovou esta semana duas resoluções contra a eventual aplicação de sanções a Portugal por violação das metas do défice em 2015. O Parlamento juntou-se, assim, aos esforços do Governo e do próprio presidente da República. Que a condenação tenha acabado por recolher o voto unânime de todos os partidos é um sinal obviamente positivo: traduz bem o sentimento de indignação nacional e permite dirigir à Comissão Europeia uma mensagem política clara a propósito de uma medida que seria não apenas injusta, despropositada e contraproducente, mas também imoral – porque a Comissão Europeia que, na troika, impôs, apoiou e elogiou as políticas de austeridade do Governo PSD-CDS não tem agora nenhuma autoridade moral para aplicar sanções por essas políticas terem dado maus resultados.
Todavia, é absolutamente lamentável que, num assunto de tão evidente interesse nacional, não tenha sido possível chegar a um texto consensual entre todos os partidos na parte dos considerandos, o que levou à votação de duas resoluções separadas, embora igualmente condenatórias das sanções. Evidentemente, havendo leituras políticas diferentes sobre o percurso do país nos últimos anos, um texto comum só seria possível com formulações bastante prudentes e tanto quanto possível neutrais. Foi esse o esforço do PS, que logrou obter o assentimento dos partidos à sua esquerda e do PAN. Infelizmente, a Direita não prescindiu de referências elogiosas ao seu desempenho governativo – que acabou por moderar, mas não eliminar, de modo a obter o voto favorável do PS também na sua resolução. Contas feitas, o PS foi o único partido que se centrou no mais importante e votou ambas as resoluções. Já a Direita, com a sua deplorável obstinação, impediu aquilo que obviamente devia ter sido uma declaração política única e a uma só voz. Mas ao impor este voto separado, a Direita separou também as águas: mostrou que enquanto há uns que estão nesta luta para defender o interesse nacional, a Direita só pensa em defender-se a si própria.
Artigo publicado no Jornal de Notícias