Não durou muito – aliás, não durou quase nada – o verniz com que o PSD tentou dar uma aparência de unidade em torno da liderança de Rui Rio. A frágil camada de verniz aplicada pelo novo líder, com a meritória colaboração de Santana Lopes, começou a estalar, de forma visível, ainda em pleno congresso. Três episódios sinalizaram, logo ali, a divisão no maior partido da Oposição: primeiro, a intervenção de Luís Montenegro, com o seu despropositado pré-anúncio de candidatura à liderança; segundo, a polémica que envolveu a escolha de Elina Fraga para vice-presidente do partido e que culminou na sonora vaia à ex-bastonária e à opção do líder; terceiro, as modestas votações nas listas apresentadas por Rui Rio para todos os órgãos do partido, incluindo até para o Conselho de Jurisdição – onde nem aí conseguiu maioria.
O que ainda pudesse restar da falhada encenação de unidade desabou com estrondo na votação desoladora que Fernando Negrão obteve para líder parlamentar. Não há forma de disfarçar: mesmo sem qualquer adversário, Negrão não logrou alcançar, sequer, 40% dos votos dos seus colegas de bancada – um resultado ainda pior do que o obtido por Paulo Rangel em 2008. Por muito que Fernando Negrão pretenda ver nos votos brancos a expressão de um “benefício da dúvida”, a verdade é que quando tiver de enfrentar o primeiro-ministro nos debates quinzenais o novo líder parlamentar do PSD terá atrás de si, na melhor das hipóteses, e segundo o próprio, não mais do que o “apoio duvidoso” da sua própria bancada – e isso não pode deixar de o fragilizar.
É certo, se a escolha de Fernando Negrão não prometia um sucesso de popularidade entre os deputados, as coisas não ficaram melhor com a equipa pouco inclusiva que, inabilmente, decidiu levar a votos. Também não ajudou a hostilização ao líder parlamentar cessante, Hugo Soares, que completou o quadro de “tempestade perfeita” que se veio a traduzir no contundente voto de desconfiança da bancada laranja ao seu novo líder. Confrontado com os resultados, Fernando Negrão resumiu tudo numa frase lapidar: “Temos um problema na bancada”.
Acontece que este resumo, de tão resumido, se torna enganador. Na verdade, quem tem um problema, e sério, é o PSD. E o problema é este: há demasiada gente no grupo parlamentar e no partido, mas também numa certa Comunicação Social de Direita que não se conforma com a liderança de Rui Rio e está decidida a dar combate, desde a primeira hora, ao seu “desvio centrista” e à sua horrorosa abertura a entendimentos de regime com o PS. É isso que explica este ambiente de guerrilha, enquanto não chega a hora da guerra total.
Artigo publicado no Jornal de Notícias