O Parlamento Europeu prestou esta semana uma justa e muito significativa homenagem a Mário Soares, por ocasião do primeiro aniversário do seu falecimento. Na sequência de uma proposta que tive a honra de apresentar – de imediato perfilhada pela delegação socialista portuguesa e pelo grupo parlamentar socialista, mas também pelo próprio presidente do Parlamento e por todas as famílias políticas europeias – uma das principais salas de trabalho do Parlamento Europeu passará a ostentar, a partir de agora, o nome desse grande democrata e europeísta que foi Mário Soares.
Na cerimónia, que contou com a presença dos filhos, Isabel e João Soares, participaram, entre outros, o primeiro-ministro português, António Costa, e o ex-primeiro-ministro espanhol, Felipe González. Ambos sublinharam que Mário Soares, além de referência do socialismo democrático e da democracia portuguesa, é também uma referência incontornável do projeto europeu – esse projeto em que acreditava profundamente e que sempre ajudou a reforçar e a fazer avançar. A ele se deve, aliás, o pedido de adesão do Portugal democrático à então CEE, tal como foi ele que, anos mais tarde, representou Portugal, enquanto primeiro-ministro, na assinatura do Tratado de Adesão na memorável cerimónia que teve lugar nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos e em que participou, igualmente, o próprio Felipe González.
Figura maior da história de Portugal do século XX e um dos mais importantes líderes europeus da sua geração, Mário Soares foi uma personalidade ímpar: herói da liberdade, corajoso resistente contra a ditadura, construtor da democracia e da descolonização, combatente incansável das melhores causas – da paz aos direitos humanos, do Estado de direito à justiça social, da regulação da globalização à proteção do ambiente e dos oceanos. Por tudo o que fez, mas também por tudo o que foi, Mário Soares é bem merecedor da tocante homenagem que o Parlamento, em boa hora, lhe decidiu prestar. Todavia, como tive oportunidade de dizer na cerimónia, quem mais terá a ganhar com a realização desta homenagem não é tanto a memória de Mário Soares – que já conquistou o seu devido lugar na história de Portugal e da Europa – é o próprio projeto europeu, que hoje se confronta com uma séria crise de valores e de sentido.
Oxalá esta homenagem à memória sempre inspiradora de Mário Soares contribua para que a União Europeia se possa reencontrar com os seus valores fundadores, humanistas e solidários, e com a sua ambição original de paz, de prosperidade e de convergência. Porque esse reencontro já não é apenas um imperativo, é uma urgência.
Artigo publicado no Jornal de Notícias