Os bons resultados conseguidos pelo Governo de António Costa, hoje inquestionáveis tanto na frente orçamental como na frente económica, constituem um golpe fatal para a doutrina catastrofista da Direita e deixam a liderança de Passos Coelho à beira do colapso. Não é para menos: desautorizado no seu discurso agoirento de uma nota só, dificilmente a figura gasta de Passos Coelho poderá resistir à exposição ao ridículo nacional por ter apostado tudo na vinda de um “diabo” que já toda a gente sabe que não veio.
A economia, que Passos Coelho jurava estar condenada à estagnação uma vez submetida à liderança socialista com apoio das esquerdas, afinal é a que mais cresce em toda a Zona Euro, acelerando agora a um ritmo quatro vezes superior ao que se registava quando o próprio Passos deixou o Governo. Além disso, a economia está finalmente a criar emprego: segundo os dados oficiais do INE, em apenas um ano a taxa de desemprego caiu de 11,9% para 10,5%, o número de desempregados reduziu-se em 69 mil e o número de pessoas com emprego aumentou em 86 mil. Mais: 70% desta expressiva criação líquida de emprego é constituída já não por formas de contratação precária, mas por contratos de trabalho sem termo.
Na frente orçamental, o arraso não é menor para as teses da Direita: o Governo de António Costa viu o seu Orçamento para 2017 receber luz verde de Bruxelas, sem exigência de medidas adicionais e prepara-se para garantir a sua aprovação tranquila no Parlamento; viu a Comissão Europeia reconhecer que, por este andar, Portugal sairá do procedimento por défice excessivo já na primavera (“Portugal está pela primeira vez no bom caminho”, frisou o insuspeito Comissário Carlos Moedas) e, sobretudo, obteve da Comissão, apesar da obstinada resistência da “linha dura”, o cancelamento da suspensão dos fundos estruturais, pondo um ponto final no folhetim das sanções pelo incumprimento da meta do défice em 2015. Será talvez este último ponto o que mais duramente atinge Passos Coelho, porque ele sabe que a decisão da Comissão se baseia num único argumento, que é este: “A Comissão considera que Portugal tomou medidas efetivas em resposta à decisão do Conselho de 8 de agosto de 2016”. Dito de uma forma mais simples: se Portugal ficou sob a ameaça de sanções porque em 2015 o Governo de Passos Coelho falhou, agora livrou-se delas porque em 2016 o Governo de António Costa cumpriu. Se isto não mata, desmoraliza muito.
Artigo publicado no Jornal de Notícias