04.06.16

O Congresso do PS

António Costa entra no Congresso do PS deste fim de semana na posição mais forte que um líder partidário pode ter: a de primeiro-ministro. Mas o líder do PS tem muito mais para mostrar do que o poder conquistado. António Costa apresenta-se diante dos militantes à frente de um Governo do PS que governa essencialmente com o programa do PS, que está a cumprir a promessa de “virar a página da austeridade”, que tem sabido defender, com habilidade e com firmeza, o interesse nacional na Europa e que, “last but not the least”, assenta numa fórmula política que, ao contrário do que diziam os seus adversários, já provou que funciona. Isto chega e sobra para explicar o apoio forte e claro que o Congresso do PS vai confirmar à liderança de António Costa.

Há vozes críticas no interior do PS? Claro que há, como sempre houve. E ainda bem. Isso só confirma que o PS é um partido livre e democrático, onde ninguém tem medo de ninguém. Mas convém não confundir visibilidade com representatividade. Por muito respeito e atenção mediática que mereçam as vozes contestatárias, a verdade é que não vão além das esperadas. Esta semana os noticiários revelaram que um jantar federador de sensibilidades descontentes, congregadas em torno de um manifesto muito badalado, não logrou reunir mais do que dez pessoas à volta da mesa.

A verdade é que o Partido Socialista, que já no último congresso rompeu com o conceito de “arco da governação”, percebe muito bem que a única alternativa a este entendimento à Esquerda seria trair o seu programa e sujeitar-se a viabilizar a continuação da governação da Direita, por via de vibrantes “abstenções violentas”. Depois dos últimos quatro anos de austeridade e ofensiva da Direita contra o Estado social, é evidente que um tal caminho se arriscava a ser fatal para a credibilidade do PS e mais ainda quando a inédita disponibilidade dos partidos à sua Esquerda tornou possível uma alternativa melhor. E é disso que se trata: uma alternativa mil vezes melhor. Mediante compromissos políticos razoáveis com os partidos à sua Esquerda, o PS governa essencialmente com o seu programa e cumpre o seu desígnio de “virar a página da austeridade”, permanecendo fiel aos compromissos europeus. O que António Costa tem para mostrar ao congresso e ao país é muito mais do que o poder conquistado e uma “geringonça” que funciona: é a prova provada de que, afinal, há mesmo uma alternativa para a política de austeridade. O que não é pouco.

Artigo publicado no Jornal de Notícias