Em Maio de 1924, bem antes do ‘crash’ de 1929 e da subsequente Grande Depressão, a Inglaterra estava ainda confrontada com as graves consequências económicas e sociais da Guerra.
Propondo uma resposta política à altura das circunstâncias, John Maynard Keynes fez publicar no jornal The Nation um célebre artigo cujo título vinha em forma de pergunta: “O desemprego precisa de um remédio drástico?”. Noventa anos depois, é a essa mesma pergunta que a União Europeia precisa de responder.
Numa altura em que, respeitando os resultados eleitorais, se prepara a investidura de uma nova liderança para a Comissão Europeia e a sua posterior validação diante de um novo Parlamento Europeu, a questão decisiva consiste em saber se o novo programa político da União Europeia assume, com suficiente lucidez e determinação, a necessidade de dar uma resposta adequada ao descontentamento que os cidadãos expressaram nas recentes eleições europeias e que se traduziu no crescimento substancial da abstenção e das forças políticas eurocépticas (que chegaram mesmo a ganhar em países como a França e o Reino Unido). Dessa resposta depende o futuro da Europa e do projecto europeu.
Que não haja ilusões: a questão não se resolve com meras proclamações retóricas ou com simples paliativos destinados a aliviar a dor da recessão ou da estagnação económica, seja na forma de medidas pontuais de apoio às empresas, seja na forma de sucessivos programas de estágios para jovens eternamente à procura do primeiro emprego. Como escreveu Keynes no seu texto do The Nation: “Estamos atolados numa rotina. Necessitamos de um impulso, de um safanão, de uma aceleração”.
De entre os vários desafios cruciais que estão colocados ao projecto europeu e à União Económica e Monetária, nenhum tem uma centralidade comparável ao do emprego. O facto é que meia dúzia de anos depois da crise financeira ter rebentado nos Estados Unidos da América, a economia norte-americana está de novo a crescer de forma consistente e já viu o desemprego baixar para a casa dos 6%, a ponto de a Reserva Federal considerar reunidas as condições para iniciar um programa de retirada gradual dos estímulos à economia. Em contraste, na zona euro, ao fim de três anos de política de austeridade, a economia oscila entre a recessão e a estagnação e a taxa de desemprego é o dobro da norte-americana, com toda uma série de terríveis consequências: níveis insuportáveis de desemprego jovem e de longa duração, desequilíbrio agravado nas relações laborais, quebra abrupta da natalidade, riscos de insustentabilidade da protecção social e desconfiança crescente dos cidadãos no projecto europeu e nas próprias instituições políticas democráticas. E tudo isso em nome da redução de uma dívida pública que não pára de aumentar.
Certamente, há muito a fazer em múltiplos domínios para relançar a economia europeia e promover a sua competitividade mas uma coisa é absolutamente certa: não haverá um “remédio drástico” para o problema do desemprego se não houver investimento. O investimento produtivo é a variável-chave para operar a viragem de que a economia europeia precisa. E é também por isso que o emprego tem uma especial centralidade entre os principais desafios europeus: se for levado verdadeiramente a sério, não poderá deixar de ter profundas consequências na política orçamental e de gestão da dívida pública, na mobilização dos recursos financeiros comunitários, na coordenação da governação económica, no desenho das reformas para a competitividade da economia e na própria agenda de coesão social e territorial, contra o agravamento das assimetrias que atraiçoam o ideal europeu.
No estado a que as coisas chegaram, a resposta à pergunta de Keynes só pode ser uma: é de um “remédio drástico” que o desemprego precisa. Antes que seja tarde demais para o projecto europeu.
Em Maio de 1924, bem antes do ‘crash’ de 1929 e da subsequente Grande Depressão, a Inglaterra estava ainda confrontada com as graves consequências económicas e sociais da Guerra.
Propondo uma resposta política à altura das circunstâncias, John Maynard Keynes fez publicar no jornal The Nation um célebre artigo cujo título vinha em forma de pergunta: “O desemprego precisa de um remédio drástico?”. Noventa anos depois, é a essa mesma pergunta que a União Europeia precisa de responder.
Numa altura em que, respeitando os resultados eleitorais, se prepara a investidura de uma nova liderança para a Comissão Europeia e a sua posterior validação diante de um novo Parlamento Europeu, a questão decisiva consiste em saber se o novo programa político da União Europeia assume, com suficiente lucidez e determinação, a necessidade de dar uma resposta adequada ao descontentamento que os cidadãos expressaram nas recentes eleições europeias e que se traduziu no crescimento substancial da abstenção e das forças políticas eurocépticas (que chegaram mesmo a ganhar em países como a França e o Reino Unido). Dessa resposta depende o futuro da Europa e do projecto europeu.
Que não haja ilusões: a questão não se resolve com meras proclamações retóricas ou com simples paliativos destinados a aliviar a dor da recessão ou da estagnação económica, seja na forma de medidas pontuais de apoio às empresas, seja na forma de sucessivos programas de estágios para jovens eternamente à procura do primeiro emprego. Como escreveu Keynes no seu texto do The Nation: “Estamos atolados numa rotina. Necessitamos de um impulso, de um safanão, de uma aceleração”.
De entre os vários desafios cruciais que estão colocados ao projecto europeu e à União Económica e Monetária, nenhum tem uma centralidade comparável ao do emprego. O facto é que meia dúzia de anos depois da crise financeira ter rebentado nos Estados Unidos da América, a economia norte-americana está de novo a crescer de forma consistente e já viu o desemprego baixar para a casa dos 6%, a ponto de a Reserva Federal considerar reunidas as condições para iniciar um programa de retirada gradual dos estímulos à economia. Em contraste, na zona euro, ao fim de três anos de política de austeridade, a economia oscila entre a recessão e a estagnação e a taxa de desemprego é o dobro da norte-americana, com toda uma série de terríveis consequências: níveis insuportáveis de desemprego jovem e de longa duração, desequilíbrio agravado nas relações laborais, quebra abrupta da natalidade, riscos de insustentabilidade da protecção social e desconfiança crescente dos cidadãos no projecto europeu e nas próprias instituições políticas democráticas. E tudo isso em nome da redução de uma dívida pública que não pára de aumentar.
Certamente, há muito a fazer em múltiplos domínios para relançar a economia europeia e promover a sua competitividade mas uma coisa é absolutamente certa: não haverá um “remédio drástico” para o problema do desemprego se não houver investimento. O investimento produtivo é a variável-chave para operar a viragem de que a economia europeia precisa. E é também por isso que o emprego tem uma especial centralidade entre os principais desafios europeus: se for levado verdadeiramente a sério, não poderá deixar de ter profundas consequências na política orçamental e de gestão da dívida pública, na mobilização dos recursos financeiros comunitários, na coordenação da governação económica, no desenho das reformas para a competitividade da economia e na própria agenda de coesão social e territorial, contra o agravamento das assimetrias que atraiçoam o ideal europeu.
No estado a que as coisas chegaram, a resposta à pergunta de Keynes só pode ser uma: é de um “remédio drástico” que o desemprego precisa. Antes que seja tarde demais para o projecto europeu.
Artigo publicado no Diário Económico