Segundo as estimativas do professor que preside à República, se a Grécia sair do euro, a zona euro, que hoje tem 19 países, ainda fica com 18. Aplicando este admirável raciocínio ao Estado da Nação, as conclusões não são menos brilhantes.
Vejamos. É um facto que em 2010, antes do Governo PSD/CDS, nasciam em Portugal 101 mil crianças por ano e que, quatro anos depois, em 2014, houve menos 18 mil nascimentos. Perante dados tão sugestivos, uma análise menos atenta poderia ser tentada a concluir que a situação do País está pior. Todavia, aplicando a fórmula acima proposta como grelha de leitura dos problemas – a infalível “lógica da batata” – pode concluir-se, sem receio de errar, que ainda nascem umas boas 83 mil crianças por ano.
Outro exemplo: quando este Governo chegou, havia em Portugal 10,572 milhões de cidadãos residentes. Porém, consultando os números do INE, verifica-se que, depois da fulgurante governação da direita, com os seus repetidos apelos à emigração dos jovens, a população residente diminuiu de forma dramática em mais de 198 mil pessoas em apenas quatro anos. Confrontada com estes dados tão eloquentes, qualquer pessoa menos versada nestas coisas da aritmética terá tendência para concluir, de forma um tanto simplista, que a situação do País está pior. Felizmente, aplicando a salvadora “lógica da batata”, faz-se uma luz inteiramente nova sobre o problema, permitindo apurar, de forma muito tranquilizadora, que ainda residem em Portugal 10,374 milhões de pessoas.
E o mesmo se diga do problema do emprego. Segundo o INE, quando o Governo PSD/CDS chegou, no 2º trimestre de 2011, havia em Portugal 4,893 milhões de pessoas com emprego. Já no 1º trimestre de 2015, ao fim de quatro anos de estratégia de empobrecimento e de austeridade “além da troika”, havia em Portugal menos 416 mil pessoas com emprego. Uma catástrofe, dirão certamente os mais impacientes. Porém, recorrendo sempre à mesma metodologia de análise dos problemas, percebe-se que não há, afinal, motivo para alarme: 4,477 milhões de portugueses ainda não perderam de vez o seu emprego.
É certo, houve anos em que o Governo PSD/CDS se recusou a pagar aos funcionários públicos e pensionistas os 14 salários ou prestações anuais a que legalmente tinham direito. E fê-lo porque decidiu cortar nos subsídios de férias e de Natal apesar disso não estar previsto no Memorando inicial negociado com a ‘troika’. A “lógica da batata”, contudo, se aplicada com o devido rigor, como aliás se impõe, demonstra, de forma absolutamente inequívoca, que ainda assim foram pagos, quase por inteiro, 12 meses de salários ou pensões por ano.
E assim por diante.
Imagino que os especialistas na “lógica da batata” devem estar com alguma dificuldade em compreender a avaliação que os portugueses fazem sobre o Estado da Nação, segundo a última sondagem da Intercampus (divulgada pela TVI, Público e TSF). De facto, perguntados sobre o estado do país, 71,3% dizem que está “mal” ou “muito mal” e só 4,1% dizem que está “bem” ou “muito bem”, ficando-se 22,7% pelo “razoável”. E quando confrontados com a pergunta, politicamente decisiva, sobre se o País está hoje melhor ou pior do que há quatro anos, a resposta dos portugueses é igualmente inequívoca: a maioria, 52,3%, dizem que o país está hoje “pior” ou até “muito pior”, contra apenas 23,6% que dizem que o país está “melhor” ou “muito melhor”.
Das duas, uma: ou a “lógica da batata” não funciona ou o povo está noutra onda. Uma coisa é certa: quando se discute o Estado da Nação, é capaz de ser melhor ouvir o que a nação tem a dizer.
Artigo de opinião publicado no Diário Económico de 10 de julho e na sua edição online.