Assunção Cristas já nem disfarça: depois de ter humilhado o partido laranja em Lisboa, o CDS lançou agora, à escala nacional, uma espécie de “OPA” sobre o eleitorado tradicional do PSD. Esta “oferta pública de aquisição” eleitoral visa, evidentemente, aproveitar a oportunidade gerada pelas fragilidades do PSD para operar uma massiva transferência de votos e conseguir para o CDS o que há bem pouco parecia impensável: a liderança da Direita.
Vai nisto, manifestamente, tanta ambição como presunção – e essa, já se sabe, cada um toma a que quer. Certo é que se afigura um tanto otimista confundir as fragilidades do PSD lisboeta com as do PSD nacional ou a candidatura descolorida de Teresa Leal Coelho com a liderança de Rui Rio. Todavia, sem dúvida que o CDS tem os seus trunfos e já não há a menor dúvida de que está disposto a utilizá-los. Fá-lo-á, com certeza, por entre sorrisos condescendentes, como é próprio da caridade cristã, mas nem por isso de modo menos implacável para com o seu anterior parceiro de coligação.
Reconheça-se, Cristas tem a seu favor uma imagem mais simpática do que a de Rio e beneficia de lhe ter sido oferecida de bandeja a liderança da Oposição parlamentar – onde o PSD continua a não ter uma solução à altura. Junte-se-lhe o anunciado desprendimento ideológico que enquadra um verdadeiro “vale-tudo” na caça ao voto laranja; uma maior agilidade na apresentação de iniciativas políticas (mesmo que quase sempre demagógicas) e um sentido mais apurado da intervenção mediática (incluindo através da espantosa presença de dirigentes do CDS em tudo o que é comentário futebolístico!) e já se vê que o PSD tem boas razões para estar preocupado.
Em bom rigor, o maior equívoco desta OPA hostil do CDS sobre o eleitorado do PSD não está tanto no otimismo, porventura excessivo, quanto às suas reais possibilidades de sucesso, mas sim em acreditar – como os dirigentes do CDS vão sugerindo – que esta luta fratricida até pode ajudar a Direita, no seu conjunto, a reconquistar os famosos 116 deputados que lhe devolveriam a maioria absoluta perdida em 2015. Como se viu em Lisboa, a transferência de votos do PSD para o CDS não faz nada pela conquista do Centro, nem impede a vitória da Esquerda – apenas inverte a liderança da minoria de Direita. E é isso, na verdade, o que está em jogo.
Artigo publicado no Jornal de Notícias