O governo de Passos Coelho, como agora está à vista, deixou duas “bombas-relógio” programadas para rebentar só a seguir às eleições: o BANIF e o Novo Banco. Mas agora que as explosões ocorreram com estrondo nas mãos do novo Governo, aqueles que as armadilharam andam por aí cheios de lamentos, muito pesarosos com o “tremendo abalo” na confiança dos investidores. E chegam ao ponto de lançar acusações: a culpa, vejam lá, é da brigada de minas e armadilhas.
No caso do BANIF, como está provado, o governo da direita comportou-se com negligência grosseira, ignorando todos os alertas e desprezando todas as ocasiões para encontrar, em devido tempo, uma solução razoável. Depois de ter prometido “lucros” com a nacionalização, escondeu, enquanto lhe foi possível, a enorme gravidade da situação financeira a que deixou chegar o banco (já com o Estado como maior accionista) e permitiu, sem nada fazer, que o problema se avolumasse a ponto de ter de ser resolvido pelo novo Governo já à última hora, em verdadeira situação de “estado de necessidade”. Como se isto não bastasse, Passos e Maria Luis Albuquerque induziram deliberadamente meio mundo em erro sobre o impacto que tudo isto teria inevitavelmente nas contas públicas, acenando com o fim do procedimento por défice excessivo como se ele estivesse ali ao virar da esquina.
No caso do Novo Banco, não foi melhor. O governo da direita começou por falhar ao consentir que o BES ficasse de fora da reestruturação do sistema financeiro no âmbito do programa de ajustamento. Dissimulou, depois, a sua conivência política e legislativa com o Banco de Portugal na operação de resolução do BES e vendeu despudoradamente a ideia de que nada daquilo teria custos para os contribuintes (apesar do envolvimento da CGD e da mobilização das receitas fiscais oriundas do sistema financeiro…). Falhou, ainda, de parceria com o Governador, na estratégia para o Novo Banco (o que levou à saída imediata de Vítor Bento) e, consequentemente, é também seu o fracasso monumental da operação de venda. Finalmente, mesmo antes de ir embora, certamente para fechar com “chave de ouro”, a direita, mais uma vez em parceria com o Governador, teve a feliz ideia de deixar entregue ao seu Secretário de Estado cessante das privatizações a incumbência de conduzir a segunda tentativa de venda do Novo Banco. Num instante, a peça essencial da nova estratégia de venda tornou-se mundialmente famosa: trata-se, precisamente, desta magnífica operação de saneamento financeiro à custa de uns quantos credores seniores escolhidos a dedo – a tal que ainda promete fazer correr muita tinta nos tribunais e que, para já, deixou os investidores “de cabelos em pé”.
Num caso e noutro, estamos perante os estilhaços do mesmo fracasso colossal do governo da direita: o fracasso na reestruturação e estabilização do sistema financeiro, um dos pilares essenciais do programa de assistência financeira. O que agora fica claro é que ao mesmo tempo que a propaganda vendia nas eleições a ilusão da “saída limpa”, os problemas do sistema financeiro, literalmente explosivos, estavam a ser varridos para debaixo do tapete.
É difícil dizer o que é mais chocante em toda esta história: se a incapacidade governativa da direita, causadora de graves danos aos contribuintes e à economia do país; se a sua insuportável atitude de permanente dissimulação; se a indecente tentativa de tentar transferir para outros responsabilidades que manifestamente são suas. Certo é que este tipo de “bombistas” devem ser denunciados à autoridade. E, neste caso, a autoridade é o povo.
Artigo de opinião publicado no Diário Económico de 22 de janeiro e na sua edição online.
