28.01.17

Passos Perdido

Desesperado por mostrar serviço na Oposição e proteger o seu lugar de líder partidário das investidas dos seus mais impacientes correligionários, Passos Coelho, mais uma vez, não olhou a meios e foi ao ponto de tentar boicotar o acordo de concertação social para o aumento do salário mínimo, não hesitando em trocar a coerência das suas posições pelo objetivo mesquinho de tentar criar um embaraço ao Governo. Pelo caminho, desprezou olimpicamente o interesse nacional e a história do seu partido, e afrontou os parceiros sociais e o próprio presidente da República.

A resposta que Passos Coelho merecia não se fez esperar: em vez de ficar embaraçado, o Governo de António Costa, com tremenda eficácia e capacidade de gestão política, foi capaz de encontrar, em apenas 24 horas, uma solução alternativa para a redução da TSU, assegurando o apoio firme dos parceiros sociais e da própria maioria de Esquerda. Tudo visto, o resultado não podia ser mais catastrófico para Passos: não só viu exposta a sua incoerência e o seu taticismo aos olhos do país inteiro, como tem agora pela frente, e contra si, uma frente unida, política e social, que vai do Partido Comunista às Misericórdias, passando pelo PS, o Bloco, o PEV, o PAN, os empresários de todos os setores e até as IPSS, incluindo as ligadas à Igreja.

Se a disponibilidade dos parceiros sociais para convergirem de forma tão expedita no apoio à alternativa proposta pelo Governo não pode deixar de ser considerada uma “bofetada de luva branca” no líder do PSD, no plano político o que antes era um fator de divisão na maioria tornou-se uma nova oportunidade para o Governo reconfirmar a solidez da maioria parlamentar que o apoia.

Pior ainda, no decurso da controvérsia, Passos Coelho (no Parlamento) e o líder parlamentar Luís Montenegro (à Comunicação Social, nos Passos Perdidos) deixaram cair, e acabaram por confessar, a verdadeira razão da oposição do PSD ao acordo de concertação social: o que o PSD verdadeiramente acha é que o aumento do salário mínimo para 557 euros “é excessivo”. É claro, já suspeitávamos. Mas é sempre bom ver as coisas esclarecidas.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias