Antes ainda de anunciada, já os mercados davam como certa a decisão da agência Fitch de melhorar o rating de Portugal, elevando-o do nível “lixo” para o grau de investimento. Assim, três das quatro principais agências de rating – DBRS, Standard&Poor”s e Fitch – passam a convergir na recomendação de investimento na dívida pública portuguesa. A faltar, fica apenas a Moody”s, mas o “outlook” positivo que esta agência atribui a Portugal deixa perceber que não demorará muito a juntar-se ao consenso geral.
Esta mudança na avaliação das agências de rating é de enorme importância e não acontece por acaso: dois anos depois de António Costa ter mudado o rumo da política económica e virado a “página da austeridade”, foi à força de resultados – no crescimento, no emprego, na redução do défice e da dívida e na estabilização do sistema financeiro – que o Governo conquistou a confiança necessária para virar, também, a “página do lixo”. A redução dos juros da nossa dívida pública, já muito próximos dos da Itália, traduz bem o quadro de confiança na economia portuguesa, reforçado ainda mais com a eleição de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo.
A página do “lixo” – convém lembrar aos que insistem em reescrever a história – abriu-se depois de, contra o parecer da Comissão Europeia e do BCE, o irresponsável “chumbo” do PEC IV ter provocado uma crise política no auge da crise das dívidas soberanas, forçando Portugal a pedir ajuda externa, em abril de 2011. Todavia, nenhuma agência atribuiu a Portugal rating de “lixo” enquanto o Governo socialista se manteve em funções. Isso aconteceu apenas mais tarde, já depois do Governo PSD-CDS tomar posse no mês de junho, com a sua austeridade “além da troika”. Os factos são estes: a primeira agência a atribuir a Portugal a notação de “lixo” foi a Moody”s, mas só o fez a 5 de julho, levando o então primeiro-ministro Passos Coelho a queixar-se do célebre “murro no estômago”. A Fitch foi a segunda, mas só tomou essa decisão bastante mais tarde, em 24 de novembro. Já a S&P, que foi a terceira, apenas baixou a notação de Portugal para “lixo” no ano seguinte, em 13 de janeiro de 2012. Foi essa longa “página do lixo” que o Governo de António Costa conseguiu agora virar.
Artigo publicado no Jornal de Notícias