António Costa tem toda a razão ao convocar o Partido Socialista para fazer do Congresso deste fim de semana aquilo que deve ser: um espaço de debate sobre as propostas do PS para o futuro. Não se trata de limitar a liberdade de cada um, desvalorizar o debate ideológico ou resumir a discussão às tradicionais questões da tática eleitoral ou da política de alianças. Trata-se, isso sim, de debater a agenda política que o PS propõe aos portugueses para que possam viver melhor aqui, numa sociedade mais justa e numa economia mais próspera. De facto, é preciso que os portugueses vejam neste PS que se reúne em Congresso um partido que tem coisas importantes a dizer e a propor sobre o seu futuro.
Naturalmente, um partido de Governo que faz o seu Congresso perto do final da legislatura tem igualmente a obrigação de discutir o balanço da sua experiência governativa e, neste caso, também da inédita solução político-parlamentar que a tornou possível. Não há dúvida de que, nesta matéria, o PS tem muito de que se orgulhar: um Governo estável e uma maioria parlamentar inclusiva, que se prepara para cumprir a legislatura e honrar todos e cada um dos seus compromissos; mais rendimentos para as famílias, mais crescimento da economia e mais criação de emprego; menos pobreza e menos desigualdades; menos défice e menos dívida pública; mais estabilidade no sistema financeiro e menos crédito malparado; mais confiança, melhoria dos ratings, menos juros – não é coisa pouca! Em suma, o PS provou que tinha razão: havia alternativa e é mesmo possível conciliar o “virar da página da austeridade” com a fidelidade aos compromissos europeus – essa conciliação, aliás, é absolutamente essencial para explicar os bons resultados que o Governo conseguiu.
Todavia, o PS cometeria um erro se entrasse no ciclo eleitoral que se avizinha apenas com os olhos postos no passado. Pelo contrário, ter um projeto de ambição para o futuro é condição necessária para mobilizar a esperança e a confiança dos portugueses.
De entre os vários temas propostos ao Congresso na moção de António Costa, creio que a questão das desigualdades merece um lugar central na agenda de que o país precisa. Concretizada que foi na atual legislatura uma verdadeira “estratégia de desempobrecimento”, o passo seguinte deve ser uma aposta na redução das desigualdades, que passa pela qualificação dos serviços públicos e pelo reforço da capacidade de resposta do Estado social. Ora aí está um desafio à altura da melhor tradição do partido de Mário Soares e de António Arnaut – e um excelente programa para novas convergências à Esquerda.
Artigo publicado no Jornal de Notícias